No modelo em que exerço o meu trabalho existe um número de horas semanais que estou em cada escola... A quantidade destas horas varia de acordo com o número de alunos e a demanda de cada escola, normalmente começo com menos horas e no decorrer dos anos elas vão aumentando, porém variam entre duas e oito semanais e para cumpri-las estipulo um dia fixo.
Porém, como devem ser administradas estas horas?
Existe algum critério que elenca prioridades?
Sim, é possível organizar as coisas por uma lista de prioridades, é como se houvesse uma triagem automática, se ela não foi desenvolvida é necessário que o psicólogo a faça por escrito... No entanto o atendimento de demandas é sempre prioritário e dificilmente está na triagem por que costuma ser emergencial.
Pois bem, ontem pela manhã eu estava em uma escola onde atendo das oito às treze horas, é uma escola onde existem sempre pais para serem atendidos, a maioria busca voluntariamente. Lá atuo já há quatro anos, de modo que se criou uma cultura de procurar a minha ajuda e orientação. Justamente por esta procura ser grande, e ocorrer durante todo o ano, estipulei três horários para fazer atendimentos de pais, que são 8h, 10h40 e 11h30, justamente por que o meu trabalho não pode se resumir apenas a esta atividade. Ontem porém, o casal de pais que atendi as oito da manhã estavam com problemas muito sérios e que refletem em comportamentos completamente preocupantes no filho de três anos, nosso aluno. Às nove horas eu deveria encerrar aquele atendimento para cumprir minhas tarefas internas, no entanto continuei atendendo e orientando aqueles pais. Foi preciso discernir sobre a necessidade deles de receberem ajuda naquele momento, pois dispensá-los significaria continuar observando os mesmos problemas apresentados pelo filho até aquele dia, invalidando aquela uma hora já utilizada para este atendimento.
Eis que fiquei todo o tempo necessário com eles, fazendo encaminhamentos inclusive. Quando terminamos já era quase hora do outro atendimento e eu não consegui sair da minha sala sequer para almoçar.
Tudo isto para exemplificar o quanto vai do feeling do profissional a organização do tempo na escola e também por que foi preciso contar com a tolerância de toda a escola que ficaram sem o auxílio de sempre.