quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O que o personagem mitológico Procusto tem a ver com a Educação?

Procusto era um gigante que morava no caminho entre Mégara e Atenas, àqueles que cruzavam o seu caminho ele fazia passar por uma terrível condenação. Procusto havia construído um leito no tamanho que ele considerava certo, e quando capturava algum viajante ele o fazia deitar neste leito. Se a vítima fosse menor ele o esticava e se fosse maior ele cortava para que todos coubessem exatamente naquela cama.
Recontei essa história com minhas próprias palavras, visto que existe mais do que uma versão para ela, e eu confiei naquilo que li no livro e não na internet, por isso resumi.e não citei.
Eu já trabalhei este mito com grupos de professoras e as questionei sobre existir uma relação entre ele e a escola, unanimemente elas disseram que sim, que muitas vezes a escola funciona como este leito, querendo que todos os alunos sejam exatamente do mesmo tamanho, com a estatura que a escola padronizou para eles.
Os alunos que são mais lentos, tem dificuldades são violentamente esticados, não estou falando aqui de estímulo, de reforço, de auxílios necessários para este aluno aprender, estou falando de querer que ele caiba no leito a qualquer preço, a qualquer custo, sem respeitar o tamanho dele e o seu processo de crescimento, o seu tempo.
Já os alunos que são rápidos, que vão muito além do que o professor pede são cortados, professores tem uma dificuldade latente em lidar com eles, querem de todo modo aliená-los, geralmente são incapazes de aproveitar o que este aluno tem de bom a favor do seu trabalho.
Perguntei também para as professoras o que elas consideravam pior, o esticar ou o cortar, quem era mais prejudicado, o aluno maior do que o leito ou aquele que era menor. Neste momento houve divergência, porque na realidade ambas as atitudes são brutais contra o desenvolvimento do outro. Escola é lugar de aprender, de crescer e de se desenvolver, mas a Educação não tem o direito de estabelecer este 'tamanho modelo' para violentar os alunos desta forma, porque escola também é lugar de aprender a respeitar e para isso ser respeitado, é lugar de fazer socialização secundária e perceber as diferenças que existem, e é lugar principalmente de aprender o gosto pelo aprender. Ou seja, tudo na escola precisa ser agradável e prazeroso, como podemos querer pessoas que se aceitam se nós não as aceitamos? Como queremos falar em inclusão quando na verdade o nosso objetivo é medir todos pelo mesmo leito, pela mesma medida? Como é que professores preparados podem cometer essa selvageria?
Procusto foi submetido ao martírio que ele mesmo criou, a partir dali o leito nunca mais deveria ser usado. As professoras não conseguiram mensurar qual das atitudes era a mais prejudicial, isso porque o que prejudica é a permanência desta cama, onde o próprio autor foi morto para que isso fosse apenas um mito!

Escrito pela Psicóloga Talita Felipe - CRP 8 n° 16669 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ADAPTAÇÃO ESCOLAR... Você sabe como resolver???

Estamos há menos de uma semana da temida e esperada volta às aulas, crianças, professores e pais ficam afoitos imaginando a melhor maneira de passar por este momento...
Ao contrário do que se pensa, adaptação escolar não ocorre apenas na primeira ida à escola, mas pode ocorrer durante toda a vida acadêmica, de acordo com pequenas ou grandes mudanças enfrentadas pelo aluno. É possível passar por isso em decorrência de uma mudança de escola, ou de professor por exemplo...
Outra coisa que é importante ressaltar é: ADAPTAÇÃO ESCOLAR NÃO É IGUAL A CHORO
Embora seja verdade que o recurso utilizado pelos pequenos para demonstrarem o seu sentimento de recusa à escola e saudade dos pais seja esse, muitas vezes há no canto da sala uma criança que não chora, mas também não brinca, e recusa-se a participar das atividades que lhe são propostas, ATENÇÃO esta criança está precisando muito mais de ajuda do que parece.
Para que nossos pequenos tenham uma adaptação tranquila  é preciso que pais tenham em mente a palavra SEGURANÇA
Parece muito simples e ao mesmo tempo pode ser dificílimo...
Por quê??????
Por motivos óbvios:
Para que seu filho se sinta seguro com esta novidade, e entenda que o que está acontecendo não representa e nem tem relação com abandono, é imprescindível que os pais estejam seguros. Quando estes se sentem culpados por estarem "deixando" seu filho "tão pequeno" na escola "porque precisam trabalhar" terão como consequência um processo de adaptação traumático... Afinal, se esta criança que está saindo pela primeira vez do contato familiar sente que seus pais, que são sua única referência, estão inconsoláveis como podemos esperar que ela sinta e aja de modo diferente??? 
São os pais que escolhem a escola de seus filhos, nada mais justo do que eles terem firmeza e certeza do que estão fazendo. Não é possível admitir pessoas adultas, tutoras de crianças, reforçando-as a chorar para se sentirem amadas. 
Esta atitude tão comum, me fez lembrar um trecho do livro "Me larga - separar-se para crescer" do Marcel Rufo que diz: 

"Todos os pais do mundo deveriam sonhar com que seu filho se torne um dia um navegador solitário, sinal de que desempenharam seu papel com benevolência e distância suficientes para ajudá-lo a encontrar o caminho da independência. Amar um filho é ajudá-lo a encontrar a auto-estima necessária para que ele nos deixe assim que se sinta pronto para isso"

É exatamente isso que pais precisam ter em mente, que seus filhos estão iniciando a vida social, que precisarão de muito auxílio sim, mas também de autonomia e que não há lugar melhor no mundo para desenvolvê-la do que na escola!!
Será que você vai conseguir reduzir e extinguir uma possível dificuldade neste momento??? Tente importar essa prática e depois comente quais foram os resultados!!!
Talita Felipe - Psicóloga - CRP 8 n°16669