Procusto era um gigante que morava no caminho entre Mégara e Atenas, àqueles que cruzavam o seu caminho ele fazia passar por uma terrível condenação. Procusto havia construído um leito no tamanho que ele considerava certo, e quando capturava algum viajante ele o fazia deitar neste leito. Se a vítima fosse menor ele o esticava e se fosse maior ele cortava para que todos coubessem exatamente naquela cama.
Recontei essa história com minhas próprias palavras, visto que existe mais do que uma versão para ela, e eu confiei naquilo que li no livro e não na internet, por isso resumi.e não citei.
Eu já trabalhei este mito com grupos de professoras e as questionei sobre existir uma relação entre ele e a escola, unanimemente elas disseram que sim, que muitas vezes a escola funciona como este leito, querendo que todos os alunos sejam exatamente do mesmo tamanho, com a estatura que a escola padronizou para eles.
Os alunos que são mais lentos, tem dificuldades são violentamente esticados, não estou falando aqui de estímulo, de reforço, de auxílios necessários para este aluno aprender, estou falando de querer que ele caiba no leito a qualquer preço, a qualquer custo, sem respeitar o tamanho dele e o seu processo de crescimento, o seu tempo.
Já os alunos que são rápidos, que vão muito além do que o professor pede são cortados, professores tem uma dificuldade latente em lidar com eles, querem de todo modo aliená-los, geralmente são incapazes de aproveitar o que este aluno tem de bom a favor do seu trabalho.
Perguntei também para as professoras o que elas consideravam pior, o esticar ou o cortar, quem era mais prejudicado, o aluno maior do que o leito ou aquele que era menor. Neste momento houve divergência, porque na realidade ambas as atitudes são brutais contra o desenvolvimento do outro. Escola é lugar de aprender, de crescer e de se desenvolver, mas a Educação não tem o direito de estabelecer este 'tamanho modelo' para violentar os alunos desta forma, porque escola também é lugar de aprender a respeitar e para isso ser respeitado, é lugar de fazer socialização secundária e perceber as diferenças que existem, e é lugar principalmente de aprender o gosto pelo aprender. Ou seja, tudo na escola precisa ser agradável e prazeroso, como podemos querer pessoas que se aceitam se nós não as aceitamos? Como queremos falar em inclusão quando na verdade o nosso objetivo é medir todos pelo mesmo leito, pela mesma medida? Como é que professores preparados podem cometer essa selvageria?
Procusto foi submetido ao martírio que ele mesmo criou, a partir dali o leito nunca mais deveria ser usado. As professoras não conseguiram mensurar qual das atitudes era a mais prejudicial, isso porque o que prejudica é a permanência desta cama, onde o próprio autor foi morto para que isso fosse apenas um mito!
Escrito pela Psicóloga Talita Felipe - CRP 8 n° 16669